A Dengue afeta a população brasileira há muitos anos. Inclusive, é considerada endêmica, que é quando uma doença se torna tão recorrente que as pessoas passam a conviver com ela.
A Dengue é transmitida pela fêmea do mosquito Aedes aegypti. Após a picada, o vírus da Dengue cai na corrente sanguínea e começa a se multiplicar, principalmente, em órgãos como baço, fígado e tecidos linfáticos. Em um período de cinco a seis dias, em média, vários desses vírus voltam ao sangue e atacam células de diversas regiões do corpo, provando dor de cabeça e atrás dos olhos, febre, dor muscular e nas articulações, manchas vermelhas e fraqueza.
Na maioria dos casos os sintomas da Dengue desaparecem espontaneamente em cinco a sete dias, e a pessoa cria imunidade aquele sorotipo do vírus. Não existem medicamentos específicos para combater à Dengue. O ideal é manter-se em repouso, hidratado e aliviar os sintomas com medicamentos simples que não contenham ácido acetilsalicílico, porque este componente aumenta o risco de complicações.
A prevenção é a melhor forma de evitar a doença. Se você já teve Dengue, pode tomar a vacina que irá proteger contra os outros três sorotipos que você ainda não teve. Ela é disponível em clínicas particulares e em algumas farmácias. Mas se você nunca foi infectado não deve tomar a vacina. Nesse caso use repelente, elimine os focos de água parada e coloque telas nas janelas, contribuindo com a prevenção de todos.
Como se proteger da Dengue
A melhor maneira de combater a proliferação do mosquito Aedes aegypti, que transmite a Dengue, continua sendo evitar o acúmulo de água parada. Para isso, mantenha limpos os locais onde o líquido pode se acumular, deixe garrafas viradas para baixo e preencha com areia os vasos de plantas, para absorver a água.
Para o mosquito que já está no ar, a maneira de se proteger é com o uso de repelentes, mosquiteiros e telas nas janelas.
O surto de Dengue no Brasil deixa muitas dúvidas sobre qual repelente usar em crianças.
Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, a forma mais recomendada é combinar um repelente tópico, com princípio ativo DEET (N-dietilo-3,metilo benzamida) ou icaridina, com os que devem ser aplicados sobre as roupas, com derivados da permetrina e piretroides.
Que princípios ativos devo buscar nos repelentes?
Os repelentes tópicos com icaridina são os mais indicados contra o mosquito Aedes aegypti. Comparada com DEET, a icaridina é duas vezes mais potente, conforme o guia “Repelentes e outras medidas protetoras contra insetos na infância” da Sociedade Brasileira de Pediatria. A substância evapora mais lentamente e quase não há casos de irritação à pele ou aos olhos. Já a permetrina é indicada para ser aplicada sobre roupas, malhas e material de acampamento. Resiste entre cinco a setenta lavagens, dependendo da concentração aplicada (confira a indicação na bula). Telas impregnadas com permetrina são recomendadas para crianças acima dos 6 meses.
Quantas vezes aplicar repelente em crianças?
O Comitê Científico de Dermatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria indica o uso de repelente tópicos em crianças acima dos 6 meses. Para crianças menores, seu uso é apenas aceitável se ela for exposta a situações de intensa exposição a mosquitos.
Ou seja, é preciso recomendação médica para estas situações – o médico pode mediar os pós e contras. Há poucos estudos científicos avaliando a segurança de repelentes nesta faixa etária.
Entre 6 meses a 1 ano, é indicado uma aplicação diária de repelente. Dos 12 meses aos 12 anos, podem ser feitas duas aplicações ao dia. A partir de 12 anos em diante, podem ser realizadas duas a três aplicações ao dia.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou orientações sobre os tipos de repelentes adequados para evitar o Aedes aegypti, que transmite a Dengue, Zika e Chikungunya. O registro junto ao órgão garante a eficiência do produto para enfrentar o mosquito da Dengue. Para facilitar a consulta se determinado repelente está ou não regular, a Anvisa mantém no seu site uma lista de cosméticos para aplicação na pele. Confira no link abaixo:
Para saber mais!
Confira a entrevista, realizada pelo médico Drauzio Varella, sobre a importância da prevenção completa contra o mosquito da Dengue, com a doutora Melissa Barreto Falcão, médica infectologista da Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal da Saúde de Feira de Santana, na Bahia, e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Drauzio: A dengue chegou a desaparecer do Brasil porque nós, numa determinada fase, conseguimos acabar com Aedes aegypti, que é o mosquito transmissor. E infelizmente a doença retornou, e agora parece que é impossível a gente acabar com a dengue, porque nós temos que acabar com o mosquito transmissor, não é, Melissa?
E essa não é uma tarefa fácil nas grandes cidades, com essa ocupação urbana completamente desorganizada, como aconteceu no Brasil, com grande migração das zonas rurais para as cidades — e temos o reaparecimento da doença e há muitos anos esse número incrível de casos.
Vamos começar discutindo, Melissa, os tipos de dengue. A dengue não é uma doença única, causada da mesma forma pelo mesmo subtipo de vírus, não é?
Melissa: É, nós temos quatro subtipos de dengue — o dengue 1, dengue 2, dengue 3 e dengue 4 —, isso significa que as pessoas podem pegar dengue até quatro vezes durante a vida, e cada vez que tem uma nova infecção pela dengue, o risco de ter um quadro grave aumenta.
Então, diferente da zika, diferente da chikungunya, outros arbovírus, você pega uma vez e não pega nunca mais; já a dengue, cada vez que você pega um vírus você fica imune para esse vírus, mas ainda tem aí outros para poder se infectar. Então, pode ter dengue até quatro vezes durante a vida.
Drauzio: Independentemente dos quatro tipos diferentes de dengue, a transmissão é a mesma? É pelo Aedes aegypti? Melissa, explica para nós por que só o mosquito fêmea — o aedes aegypti fêmea — transmite a doença — o macho não?
Melissa: Isso, a dengue é transmitida pela picada de inseto, no caso o Aedes, e só a fêmea se alimenta com sangue. Tanto o macho como a fêmea se alimentam com a seiva da planta, e quando a fêmea copula, ela precisa do sangue humano para poder desenvolver os seus ovos.
Então, cerca de dois dias depois da cópula, ela vai sugar, para poder desenvolver a seus ovos e acabar pondo, e que vai dar origem às larvas e assim por diante. Então, essa etapa de sugar o sangue é essencial para o desenvolvimento dos ovos do Aedes.
Drauzio: Melissa, seguramente o mosquito é o animal mais perigoso. Eu fiz uma vez uma matéria no Fantástico que eu perguntava para as pessoas “qual é o animal mais perigoso?” e um falava “é a cobra”, outro dizia “é a onça” e o mais perigoso é um mosquito, não é? Pelo fato da fêmea precisar de sangue humano para poder se desenvolver? E é aí que os mosquitos transmitem uma série enorme de doenças? E no caso da dengue, em que períodos do ano a transmissão é mais comum, Melissa?
Melissa: Eu aprendi muito a respeitar e entender esse mosquito ao longo da minha vida, como uma infectologista, e é no período do verão, que é o período do ano que tem o maior risco, a maior incidência de todas arboviroses, todas as doenças transmitidas por mosquito, porque o mosquito gosta de água e gosta de calor.
Como a maior parte do clima sendo tropical no país, praticamente no ano inteiro a gente pode ter a incidência e casos de dengue presente, mas principalmente no verão, que aí tem muita água depositada na rua; com o calor, o sol forte faz com que o desenvolvimento dos mosquitos aconteça de uma maneira mais rápida, então acaba tendo o ambiente favorável e a temperatura que vai fazer com que esse desenvolvimento seja acelerado. Muitas vezes, o mosquito se desenvolve até o adulto por um período menor do que se fosse no período mais frio ou outra época do ano.
Drauzio: E cada mosquito, na verdade, tem determinados hábitos, não é? Por exemplo, o mosquito da malária, transmissor da malária, costuma picar mais no final da tarde. E no caso é do Aedes aegypti, quais são os horários preferenciais?
Melissa: É, o Aedes tem o hábito principalmente diurno, ele pica mais durante o início da manhã ou o final da tarde.
Então, temos que usar os repelentes, usar as medidas preventivas já desde o início da manhã, não deve deixar para noite, para quando o horário que, como principalmente o culex, né, a muriçoca comum, pica. Mas isso não quer dizer que, por ele ser principalmente com hábitos diurnos, ele não vá picar à noite; caso ele tenha a necessidade, não tenha se alimentado durante o dia, pode acontecer de à noite ele picar também, e sempre em alturas baixas, então, ele costuma voar baixo, até a altura da cintura; principalmente nos pés, nas pernas, devemos ter um cuidado maior.
Drauzio: É, vamos lembrar também que ele é um mosquito que gosta de viver perto das casas! É aí que ele garante a sobrevivência dele? Não é um mosquito que se afaste muito do ambiente, em que ele foi gerado? E uma coisa que a gente insiste sempre em dizer “olha, não deixe pneu no quintal juntando água, garrafas vazias com água ou vasinho de planta acumulando água no pratinho…”, acho que todo mundo já ouviu falar nisso, Melissa? E, no entanto, é difícil as pessoas tomarem esses cuidados necessários. A que você atribui essa falta de consciência, vamos dizer assim?
Melissa: Eu acho que é mais uma falta de memória da população brasileira, a gente se preocupa muito com a coisa enquanto ela está ativa, então acontece epidemia de dengue, epidemia de chikungunya, todo mundo procura se preocupar mais e com o passar do tempo as pessoas vão esquecendo, e isso não deve acontecer.
O mosquito e essas doenças transmitidas por ele estão presentes em todos os estados do país, não temos locais em que não tenha doenças associadas ao Aedes, e os cuidados têm que ser mantidos em todos os períodos do ano e o combate principal tem que ser um mosquito; conseguindo combater o Aedes, combatemos todas as doenças transmitidas por ele.
Então, isso vai não só do cuidado pessoal como do cuidado coletivo. Quando a gente cuida da nossa própria casa, está cuidando também de toda nossa vizinhança e da comunidade próxima.
Então, pelo menos uma vez na semana temos que vistoriar a nossa casa — olhar os vasos de planta, colocar terra nos vasinhos de planta, olhar a caixa d’água, se está fechada, a calha de água, o reservatório do ar-condicionado e da geladeira; e isso uma vez na semana —, porque vai impedir que o mosquito se torne adulto.
É uma média de 10 dias o ciclo de vida do mosquito, então, conseguindo limpar esses ambientes antes disso, consegue evitar que ele se torne adulto e que vá proliferar e causar doença aí em muitas pessoas.
Drauzio: Eu no começo dessa nossa conversa falei que é muito difícil nós ficarmos livres da dengue e das outras arboviroses. Você está de acordo, Melissa?
Melissa: Sim, eu acho que a principal maneira da gente se livrar dessas arboviroses todas é o combate ao mosquito — esse é o fator essencial —, e quanto mais precoce esse combate, na fase da larva, é muito mais fácil de combater. Isso cabe a nós, fazermos o nosso próprio ambiente, estar atento à vizinhança e tomar os cuidados necessários para repelir os mosquitos, quando não for possível evitar aquela transformação para o mosquito adulto.
Então, o uso dos repelentes e todos os cuidados no nosso domicílio é a única maneira de conseguir reduzir a população de Aedes e consequentemente reduzir as doenças causadas por eles.
Drauzio: Melissa, muito obrigado por esses esclarecimentos.
Melissa: Um grande abraço. Um prazer muito grande estar com você, ajudando na divulgação de informações importantes para nossa população.
Fontes: https://saude.abril.com.br Por Sílvia Lisboa