Flora e Leopoldo, no passado, foram atores. Hoje, já idosos, moram com o filho Carlão, a nora Irene e os netos Carlinhos e Dóris em um apartamento no Rio de Janeiro. No crepúsculo de suas vidas, nada seria mais natural que o convívio com a família numa atmosfera de amor e cuidados, tendo a dignidade e o respeito que todo ancião merece. No entanto, o casal de velhinhos vive situações diárias de humilhação fora do ambiente doméstico e até dentro de casa, sendo ambos maltratados pela neta que os furta e lhes diz impropérios. Esse foi o enredo de um dos focos narrativos da novela “Mulheres Apaixonadas”, de Manoel Carlos, exibida no ano de 2003. Se fosse apenas fruto da imaginação de um escritor, não seria algo tão chocante, todavia denúncias de desrespeito aos idosos vêm aumentando a cada ano, mostrando-nos um quadro assombroso e triste.
“Respeito é bom e todo mundo gosta”, ensina-nos o ditado popular. Mas, o que é respeito? Conforme definições coletadas de muitos dicionários e opiniões públicas, podemos considerá-lo como um sentimento positivo em relação a algo ou a alguém que estimamos e por quem nutrimos admiração e consideração devido a seus atributos únicos que resultam em contribuições de valor para a sociedade como um todo. Portanto, o ato de respeitar é um valor humano e social de suma importância, entretanto vivemos um momento de extrema carência de atitudes respeitosas. Há o desrespeito ao Meio Ambiente, à vida, aos deveres e direitos, à dignidade humana entre outros tantos. Mas aquilo que nos chama mais atenção é a falta de respeito aos nossos idosos, como o exemplo acima ilustrado.
É visível o fato de que o Brasil está se tornando um país longevo, e por isso devemos parar um pouco com a correria do dia a dia para meditarmos sobre como estamos tratando os nossos idosos. Estamos respeitando os seus cabelos brancos? Estamos dando a devida relevância à experiência de vida que eles trazem em sua aparência agora frágil e desgastada pelo muito com que contribuíram para com nossas vidas, nossas famílias ou com o progresso de nosso país?
Muitos dizem que o brasileiro não valoriza a memória, a História, por ser um país novo – 519 anos – e de juventude tropical. É, mas esse tempo já passou. Estamos envelhecendo rapidamente e precisamos resgatar sentimentos como respeito, amor, honestidade e esperança para que todos tenham um futuro. O nosso, se tivermos sorte, será a velhice. E como você quer ser tratado quando envelhecer? Eis a questão, dir-nos-ia Hamlet – o príncipe da Dinamarca. A questão pode não ser simples, todavia ainda é possível modificá-la, não somente conhecendo o Estatuto do Idoso, mas também o fazendo valer. Ainda, não apenas respeitando a lei, mas indo além: amando nossas avós e avôs, tratando com gentileza e prioridade todos os anciãos, tendo paciência e carinho com aqueles que um dia suavizaram com suor e lágrimas o caminho pedregoso de outrora por onde agora passeamos lépidos na flor de nossas vidas, e dando menos importância que o real valor aquilo que é passageiro e fugaz. Todos aqueles que valorizam adequadamente os membros de sua sociedade constroem o presente, projetando um futuro melhor com as valiosas lições do passado. Pense nisso!
Professora Lucimara Eshima